A luta pela redução da jornada de trabalho é marcada por resistência, organização sindical e embates constantes entre trabalhadores e empregadores. Desde a Revolução Industrial, a relação entre capital e trabalho tem sido pautada pela exploração da força de trabalho, muitas vezes em condições desumanas, e pela reivindicação de melhores condições na atividade laboral.

Nos séculos XVIII e XIX, a mecanização da produção levou a jornadas exaustivas, frequentemente superiores a 14 horas diárias, em ambientes insalubres. Mulheres e crianças eram amplamente exploradas, recebendo salários menores e enfrentando riscos constantes de acidentes. Essa realidade gerou greves e a formação de movimentos sociais que buscavam regulamentar o tempo de trabalho, garantindo não apenas a sobrevivência, mas também a dignidade dos trabalhadores.

As primeiras grandes mobilizações surgiram na Inglaterra e nos Estados Unidos, com a campanha das “oito horas de trabalho, oito de descanso e oito de lazer”. No Brasil, essa conquista avançou com a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) em 1943 e a fixação da jornada semanal de 44 horas na Constituição de 1988.

Entretanto, a luta por melhores condições segue atual. Hoje, os movimentos sindicais e sociais reivindicam o fim da jornada 6×1, buscando um equilíbrio entre vida profissional e pessoal.

Do movimento oito horas à consolidação dos direitos

O movimento sindical ganhou força no século XIX, especialmente com a campanha das oito horas diárias. Nos Estados Unidos, uma das manifestações mais emblemáticas ocorreu em Chicago, em maio de 1886, durante o Massacre de Haymarket. Em resposta à repressão violenta contra operários em greve, o 1º de Maio foi instituído como o Dia do Trabalhador.

Na Europa, países como Inglaterra, França e Alemanha fortaleceram seus movimentos sindicais, resultando na criação de leis que limitaram a jornada e garantiram direitos como folgas e férias remuneradas.

No Brasil, a luta por melhores condições avançou ao longo do século XX, impulsionada por movimentos operários, especialmente nas fábricas de São Paulo e Rio de Janeiro. A criação da CLT, em 1943, estabeleceu uma jornada máxima de 48 horas semanais e regulamentou o trabalho assalariado. Décadas depois, a Constituição de 1988 reduziu essa carga horária para 44 horas semanais, garantindo direitos como horas extras e descanso remunerado.

Mesmo com essas conquistas, a redução da jornada continua sendo uma pauta central, especialmente diante das transformações no mercado de trabalho e do avanço da automação. A defesa do fim da jornada 6×1 ganha força como uma medida essencial para a qualidade de vida dos trabalhadores.

A nova luta: Fim da jornada 6×1 e a busca por mais qualidade de vida

A luta pelo fim da escala 6×1 tem ganhado destaque no Brasil, impulsionada por movimentos sindicais, sociais e debates legislativos. Esse modelo, que exige seis dias consecutivos de trabalho para um dia de descanso, é apontado como prejudicial à saúde mental e física dos trabalhadores, contribuindo para o aumento de casos de burnout, ansiedade e doenças musculoesqueléticas.

O Movimento social Vida Além do Trabalho, uma iniciativa que surgiu em resposta ao esgotamento profissional crescente no país, ganhou força nas redes sociais. Em novembro de 2024, uma petição pública já contava com mais de 2,8 milhões de assinaturas.

No Dia Internacional da Mulher deste ano, manifestações em diversas capitais do país incluíram a luta pelo fim da jornada 6×1 entre suas pautas, evidenciando a relevância do tema na sociedade.

No Congresso Nacional, propostas para reduzir a jornada de trabalho seguem em discussão. A PEC 221/19, de autoria do deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), propõe uma redução progressiva da jornada semanal de 44 para 36 horas ao longo de dez anos e está em tramitação na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara.

Outra proposta, de autoria da Deputa Erika Hilton, a PEC 8/25 – estabelece uma jornada de quatro dias de trabalho e três de descanso, modelo já testado em alguns países, como Islândia e Reino Unido, onde demonstrou benefícios para produtividade e bem-estar dos trabalhadores. A matéria foi protocolada em fevereiro deste ano na Câmara dos Deputados com o apoio de 234 parlamentares e vem ganhando grande repercussão na imprensa.

Com a automação e digitalização do trabalho, cresce a necessidade de repensar os modelos tradicionais de carga horária. A tecnologia já otimiza processos produtivos, tornando evidente que a jornada deve se ajustar a essa nova realidade.

A luta sindical continua para garantir que o progresso das relações trabalhistas não se limite ao avanço tecnológico, mas também promova o bem-estar dos trabalhadores. No passado, a redução da jornada para oito horas foi considerada impossível, mas tornou-se realidade. Da mesma forma, o fim da jornada 6×1 e a adoção de um modelo que equilibre produtividade e qualidade de vida representam um importante passo para um mercado de trabalho mais humano e sustentável.

 

Por Antônia Rangel

Fonte CONTEE

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