O justo, o bom e o melhor… ainda estão entre nós.

Há 79 anos, prestes a ser assassinada num campo de concentração nazista, a dirigente comunista, nascida na Alemanha, Olga Gutmann Benário Prestes, de 34 anos, escreveu em sua carta de despedida que dedicou a sua vida ao justo, ao bom e ao melhor do mundo.

Deportada do Brasil, presa pela Gestapo ao voltar a sua terra natal; foi encarcerada em Barnimstrasse, onde teve uma filha, Leocádia, fruto do amor recíproco de Luís Carlos Prestes. Depois de 5 anos e seis meses de prisão, Olga foi executada, em 23 de abril de 1942, numa câmara de gás do campo de extermínio de Bernburg.

A bravura simples e a delicadeza heróica que emanam de suas últimas palavras, assim como de sua vida, nos inspira, alerta para os perigos dos tempos atuais e, sobretudo, nos convoca impiedosamente a seguir seus propósitos e sonhos.

Fossem outros os dias, seria hora de reunir amigos para agradecer à vida por ela haver-nos dado uma mulher tão digna e por tê-la feita também brasileira. Olga Benário, presente!…

 Olga Benário Prestes... Carta de despedida

“Queridos:

Amanhã vou precisar de toda a minha força e de toda a minha vontade.
Por isso, não posso pensar nas coisas que me torturam o coração, que são mais caras que a minha própria vida.
E por isso me despeço de vocês agora.
É totalmente impossível para mim imaginar, filha querida, que não voltarei a ver-te, que nunca mais voltarei a estreitar-te em meus braços ansiosos.
Quisera poder pentear-te, fazer-te as tranças – ah, não, elas foram cortadas.
Mas te fica melhor o cabelo solto, um pouco desalinhado.
Antes de tudo, vou fazer-te forte.
Deves andar de sandálias ou descalça, correr ao ar livre comigo.
Sua avó, em princípio, não estará muito bem.
Deves respeitá-la e querê-la por toda a tua vida, como teu pai e eu fazemos.
Todas as manhãs faremos ginástica… Vês? Já volto a sonhar, como tantas noites, e esqueço que esta é a minha carta de despedida.
E agora, quando penso nisto de novo, a idéia de que nunca mais poderei estreitar teu corpinho cálido é para mim como a morte.

Carlos, querido, amado meu: terei que renunciar para sempre a tudo de bom que me destes?
Conformar-me-ei, mesmo que não pudesse ter-te muito próximo, que teus olhos mais uma vez me olhassem.
E queria ver teu sorriso.
Quero-os a ambos, tanto, tanto.
E estou tão agradecida à vida, por ela haver-me dado ambos.
Mas o que eu gostaria era de poder viver um dia feliz, os três juntos, como milhares de vezes imaginei.
Será possível que nunca verei o quanto orgulhoso e feliz te sentes por nossa filha?

Querida Anita, meu querido marido, meu Garoto: choro debaixo das mantas para que ninguém me ouça, pois parece que hoje as forças não conseguem alcançar-me para suportar algo tão terrível.
É precisamente por isso que esforço-me para despedir-me de vocês agora, para não ter que fazê-lo nas últimas e difíceis horas.
Depois desta noite, quero viver para este futuro tão breve que me resta.
De ti aprendi, querido, o quanto significa a força de vontade, especialmente se emana de fontes como as nossas.
Lutei pelo justo, pelo bom e pelo melhor do mundo.
Prometo-te agora, ao despedir-me, que até o último instante não terão por que se envergonhar de mim.
Quero que me entendam bem: preparar-me para a morte não significa que me renda, mas sim saber fazer-lhe frente quando ela chegue.

Mas, no entanto, podem ainda acontecer tantas coisas… Até o último momento manter-me-ei firme e com vontade de viver. Agora vou dormir para ser mais forte.
Beijo-os pela última vez.”
(sb)

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