No período de 24 a 28 de julho, realizamos mais uma edição importante do Ciclo Nacional de Palestras Formativas do CES.  O Ciclo de Palestras remotas foi criado em 2020, quando fomos surpreendidos com a COVID-19; desde então, foram realizadas 6 edições deste importante evento de formação política e sindical.

Nesta edição o tema central foi, CONJUNTURA INTERNACIONAL, 200 DIAS do GOVERNO LULA e MOVIMENTO SINDICAL.

No 1º Dia do Ciclo Nacional de Palestras Formativas, a abertura foi realizada pela coordenadora geral do CES, Liliana Lima.

Liliana falou da importância de mais um Ciclo de Formação neste momento conjuntural e agradeceu pela presença de todos e todas. O coordenador de Formação, Augusto Petta, em sua saudação, informou que para este Ciclo tivemos 134 inscrições, com a presença de 12 Estados, sendo a participação de 44% de mulheres e 56% de homens; um número muito expressivo e que demonstra o compromisso com a formação.

Na palestra com Ana Prestes o tema abordado foi sobre a Conjuntura Internacional - o Avanço do Fascismo e a Luta pela Democracia e Pelo Socialismo – do Mundo Unipolar ao Mundo Multipolar.

Ana, explicou sobre os episódios da terceira década do século XXI, o 11 de setembro de 2001, a pandemia do Novo Coronavírus e as Mudanças Climáticas, que ocorreram e ocorrem no Mundo e para refletirmos:

 "Será que estamos caminhando para um Mundo Bipolar ou Multipolar"?

Durante a exposição, a professora fez uma análise de como é importante entender sobre a crise econômica de 2008 (mesmo com governos progressistas no poder) e como os setores neoliberais emergiram. Além disso, entender como o movimento fascista ganhou força a partir de 2013 e como aconteceu a maior tragédia que marcou nosso tempo - Governo Bolsonaro.

Ainda neste dia, foi falado sobre as vitórias importantes no Brasil, na Argentina, Bolívia e Colômbia.

No 2º dia, contamos com a exposição sobre "Economia nos 200 dias do governo Lula e perspectivas: Reindustrialização, Reforma Tributária, Combate à Desigualdade e outros aspectos relevantes relativos à Economia", com o professor Marcio Pochmann.

O professor fez um apanhado histórico, desde 1930, quando o Brasil deixou de ser um Brasil agrário para ser um País industrial. Nesta fase passamos a ser o 3º/4º País com a maior classe operária. Na época o Brasil mudava de rota tornando -se um Brasil Industrial.

Guardadas as devidas proporções, estamos vivendo um outro momento de alteração de rota. Depois de 6 anos de destruição no Brasil, com os últimos Governos, Temer e na sequência Bolsonaro, precisamos retomar a construção do País e entender para onde queremos levar a nossa luta.

Não podemos atuar apenas nas emergências, temos que ter um horizonte pensando em questões fundamentais, como: a revolução informacional (era digital), as mudanças nas formas de trabalho na era digital, a questão do novo regime climático, o novo regime demográfico (repensar a questão demográfica).

É muito importante o movimento sindical estar atento a todas as mudanças e seus aspectos; somente, desta forma, conseguiremos compreender a classe trabalhadora e atender às suas demandas.

O Ciclo de Palestras Formativas do CES, no 3º dia, debateu sobre "Saúde e Educação nos 200 Dias do Governo Lula e Perspectivas", com os professores Adriano Massuda e Helena de Freitas.

A maioria da população brasileira reconheceu a importância do SUS pela primeira vez durante a pandemia, disse o professor Adriano Massuda.

"Pensar o sistema de saúde é pensar na geopolítica". É muito importante ter consciência que nosso Sistema Único de Saúde é Universal e Integral muito diferente de outros sistemas de saúde no mundo.

Temos que analisar o sistema de saúde, levando em conta, o contexto demográfico, epidemiológico, político, econômico, legal/regulatório, sócio cultural, ecológico e tecnológico.

De forma bem objetiva, neste dia, foi apresentado aos cursistas, o que são os promotores da mudança no Sistema de Saúde no Brasil e as barreiras que temos que enfrentar para essas mudanças. Além disso, outros pontos foram apresentados: políticas de austeridade fiscal, os impactos da Covid 19 no Brasil na funcionalidade do SUS e alguns pontos dos 200 Dias do Governo Lula na área da saúde.

A explanação da professora Helena de Freitas nos trouxe muitas reflexões acerca do quadro atual na área da Educação.

A professora abordou sobre a formação dos professores e professoras, a preocupação principalmente com a formação inicial, os dilemas na carreira (já que não temos concursos públicos), além da questão na queda da qualidade da Educação com as privatizações em muitas instituições de ensino.

"Temos que buscar alternativas para sanar essas questões".

Muitas instituições foram destruídas com o processo de privatização, quadro reforçado a partir do Golpe de 2016 e aprofundado com o Governo Bolsonaro.

Neste momento, precisamos através da educação construir uma nova forma de organização social, almejando uma sociedade mais igualitária.

A retomada do Fórum Nacional da Educação é muito importante, pois é um espaço coletivo de debate. Temos que ter no Sistema Nacional de Educação, a expansão das Universidades e Escolas Públicas, ainda hoje, atendemos poucas crianças. "É necessário e urgente criar as condições para o atendimento de mais crianças e jovens".

Helena de Freitas abordou também sobre as dificuldades na Reforma do Novo Ensino Médio e os dilemas do FUNDEB.

Precisamos refletir: Qual é o projeto histórico que queremos construir para nosso País?

Essa pergunta precisa estar presente na luta. Precisamos de uma formação ampla e continuada e para isso é necessária a formação coletiva.

As presenças dos palestrantes, professor Dari Krein e Frei Betto, deu sequência ao Ciclo de Palestras, no 4º dia, com o tema, "A Importância da Educação Popular e da Formação Sindical".

O professor Dari iniciou sua exposição afirmando que, "A formação não é somente a transmissão de conteúdo, mas sim a construção coletiva".

Nesta aula, Dari fez um apanhado da história do movimento sindical, desde a redemocratização e ressaltou que neste momento conjuntural os sindicatos precisam ser resgatados. Nos últimos Governos, os sindicatos e a formação sindical perderam espaços e agora precisam ser nosso ponto central. "Temos que trazer a juventude, tornar o mundo sindical atraente e para isso, precisamos refletir e construir coletivamente formas de participação dos jovens".

É urgente retomar a centralidade do trabalho; este tema perdeu prestígio na sociedade brasileira, vivemos uma crise sistêmica que exige reflexão. As formas de sociabilidade precisam ser repensadas, pois estamos vivendo em uma sociedade individualista. Então, a necessidade de realização de debates, cursos, rodas de conversas.

O dirigente sindical precisa ter capacidade de diálogo, ler a conjuntura, ter capacidade de escuta e ter contato com a academia. "O estudo, a atualização permanente, a capacidade de formação/elaboração, são fundamentais para termos resultados positivos e permanentes".

Em uma pesquisa realizada recentemente, com várias entidades sindicais, o resultado constatou a dificuldade nas interações com a base; muitos sindicatos não têm mais capacidade de realizar ações coletivas e isso acaba distanciando o sindicato dos trabalhadores e trabalhadoras. Temos consciência que vivemos outro momento e não podemos voltar ao sindicalismo passado; para isso é necessário entender que a formação deve ser um espaço coletivo para construção de conhecimento.

Durante a exposição o professor citou alguns eixos para pensar sobre a questão do trabalho e a formação. Dentre eles:

  • ·Como pensar o Mundo do Trabalho? Hoje temos uma ausência de trabalhos dignos de qualidade na sociedade, 58% dos trabalhadores (as) vivem na informalidade;
  • ·Quais são os impactos da tecnologia no mundo do trabalho?
  • ·Como garantir a proteção social para todos e todas?
  • ·Como repensar a organização coletiva dos trabalhadores, considerando as diferenças entre o século XIX, XX e XXI?
  • ·Quais são as novas formas de sociabilidade, levando em conta o novo mundo contemporâneo?
  • ·Como enfrentar os problemas das desigualdades?
  • ·Como pensar todos os sistemas, levando em conta a transição ecológica?

"Os desafios são imensos e exigem muito espaço coletivo, formação e reflexão".

As reflexões de Frei Betto foram sobre a questão da Educação Popular.

Frei Betto falou rapidamente sobre o encontro que teve com o Presidente Lula em janeiro (no dia da posse); disse que na ocasião colocou ao Presidente suas inquietações e a importância de um trabalho intenso de Educação Popular.

Na avaliação de Frei Betto, nos Governos anteriores do PT (mandatos de Lula e Dilma) faltou o trabalho de Educação Popular de forma mais intensa.

Frei Betto explicou como surgiram as organizações/instituições e como eram organizadas no passado; ressaltou a importância de todas as instituições se preocuparem com a Educação Popular, citando exemplos de que forma podemos colocar em prática este método de Educação importante e fundamental. "Precisamos trabalhar com o método indutivo (de baixo para cima), este método possibilita a vivência".

O nosso desafio é atingir o movimento jovem que está à mercê do narcotráfico. No passado, tínhamos uma presença nos setores mais carentes e que hoje foram tomadas pelas milícias, igrejas neopentecostais e tráfico. Como fazer para atrair este público para efetivação da Educação Popular? Temos que ser criativos, fazer oficinas de culinária, música, entre outras, e através de dinâmicas ativas aprimorar e criar condições para aplicar a Educação Popular.

O Governo precisa investir em educação política, formar educadores populares; para isso, é necessário criar estratégias para chegar na população. Seja através dos agentes de saúde (que hoje são mais de 400 mil), através de programas que possam explicar as medidas populares que o Governo vem desenvolvendo, retomar institutos que ofereciam capacitação, como por exemplo, o antigo Instituto Cajamar. No passado tivemos a Rede Educação Cidadã, que funcionou e foram capacitados mais de 800 educadores populares.

"Precisamos utilizar as novas tecnologias, as redes digitais a nosso favor, pois sofremos a desinformação política todos os dias; temos que remar contra a maré".

Para fechar mais um Ciclo Nacional de Palestras Formativas do CES, debatemos sobre o tema "Movimento Sindical Atual e Perspectivas Pauta de Reivindicações - Financiamento das Entidades Sindicais - Comunicação Sindical - Revogação das Reformas Previdenciária e Trabalhista", com Nivaldo Santana.

Através de uma exposição muito objetiva e didática, trouxe considerações importantes aos participantes sobre as mudanças na organização e gestão do trabalho, os impactos com as Reformas Previdenciária e Trabalhista, além de fazer uma reflexão acerca das medidas necessárias para melhorar a vida dos trabalhadores e trabalhadoras.

Nivaldo apresentou muitos dados sobre os ataques que as Reformas promoveram ao longo dos 6 anos de Governo Temer e Bolsonaro. Temer aprovou, em março de 2017, a terceirização irrestrita nas atividades meio e fim, legalizou o negociado sobre o legislado, aprovou o trabalho intermitente, entre outras medidas.

No Governo Bolsonaro, essas medidas se aprofundaram. Bolsonaro acabou com o Ministério do Trabalho, aprovou uma Nova Reforma da Previdência aumentando a idade para aposentadoria, sendo 62 anos para mulheres e 65 anos para homens e aumentou o tempo de contribuição para 40 anos para aposentadoria pelo teto.

Foram 6 anos vividos com muitas maldades, porém com muita resistência dos movimentos sociais, sindical e partidos políticos. O Movimento Sindical realizou grandes mobilizações, realizou a CONCLAT e participou da construção da Frente Ampla, que derrotou Bolsonaro.

"Estamos vivendo um novo momento, respirando democracia".

Esta reconstrução do Brasil não é uma tarefa simples e fácil, pois temos um Congresso conservador e, em alguns Estados, governadores também conservadores que tentam a qualquer custo amarrar a economia, mantendo o movimento neoliberal.

A nossa luta é contribuir para que o presidente Lula tenha êxito em seu Governo, para o Brasil crescer, se industrializar, gerar empregos e melhorar a qualidade de vida do povo brasileiro. "Precisamos aproveitar a nova conjuntura para avançar, mobilizando os trabalhadores e trabalhadoras, com as bandeiras de diminuição da taxa de juros, pela valorização do trabalho e fortalecimento dos Sindicatos".

É necessário e fundamental no sindicalismo classista, termos quadros qualificados, elevando a intervenção política, além de termos comunicação e a formação como ferramentas de luta. Precisamos ampliar ao máximo a comunicação e a formação nas redes digitais.

Foram muitas as reflexões e informações nos cinco dias de evento, o que

trouxe muito aprendizado e mais energia para continuar a Luta e a Formação.

Quem se forma, transforma!

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